Reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA)
O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma estrutura fibrosa localizada dentro da articulação do joelho. Com formato semelhante a uma “corda”, é constituído por dois grandes feixes, ou bandas, que têm a função de conferir estabilidade e segurança ao joelho para a realização dos movimentos do dia a dia e nas atividades esportivas.
A lesão do LCA é muito comum no mundo dos esportes, principalmente no futebol, e pode acontecer devido a uma parada brusca, colisão, desaceleração ou mudança rápida de direção. Para isso, o tratamento pode ser feito com reabilitação ou com uma cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior.
O ligamento, que tem a função de evitar que a tíbia seja deslocada para a frente em relação ao fêmur durante as atividades, pode sofrer estiramento ou ruptura (total ou parcial), causando a sensação de instabilidade ao andar.
Entre os sintomas do paciente com esta lesão, estão dor, inchaço e sensação de que o joelho perdeu o “eixo”.
O rompimento pode acontecer nas duas bandas do LCA, a chamada lesão total, ou em apenas uma banda, quando é considerada uma lesão parcial já que a outra continua íntegra.
O tratamento e o prognóstico dependem de uma série de fatores, como a idade, o nível de atividade física, o nível de falseio e as expectativas futuras do paciente, bem como a presença de outras lesões associadas.
Em um caso com lesão tanto no LCA quanto no menisco, por exemplo, indica-se a cirurgia em ambos.
Por outro lado, se houver somente lesão no ligamento cruzado anterior, dependendo do caso, pode ser possível realizar o tratamento não-cirúrgico.
Isso acontece porque a lesão concomitante no LCA e no menisco apresenta maior risco de dano à articulação, aumentando também as chances do paciente desenvolver artrose.
Outros fatores que influenciam na escolha do tratamento são a idade e as necessidades de cada paciente.
Em casos de adultos e jovens que estão expostos constantemente a situações de risco de potencial torções no joelho, inclusive atletas que praticam atividades com movimentos rotacionais do joelho ou deslocamentos laterais, por exemplo, o tratamento cirúrgico é a primeira opção.
Por outro lado, em casos de pacientes mais idosos, sem sinais de instabilidade e que não praticam atividades com grande demanda do joelho no dia a dia, muitos ortopedistas optam pela abordagem conservadora, com tratamento sem cirurgia.
O que é a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior?
Quando há um rompimento do ligamento cruzado anterior (LCA) e não é possível reparar o ligamento, é necessário reconstruí-lo com material biológico, chamado de enxerto.
Este material consiste em um tendão do joelho do próprio paciente ou de um doador falecido, como quadríceps, patelar, semitendíneo ou grácil.
O tratamento cirúrgico é a principal recomendação para pacientes jovens e ativos pois, além de proporcionar uma melhora funcional, também protege a articulação de novas entorses e evita a ocorrência de lesões mais graves no futuro.
É importante destacar que os pacientes com lesão no LCA e que insistem em realizar atividades esportivas têm grande probabilidade de sofrer também lesões nos meniscos e na cartilagem articular.
Por isso, é importante consultar um médico especialista o mais rápido possível para a realização de exames e a definição de um tratamento de acordo com o contexto e as necessidades de cada paciente.
Além disso, a cirurgia não pode ser realizada nem muito cedo, logo após a lesão, nem tarde demais, quando há maior risco de lesões associadas.
O tratamento cirúrgico é indicado no momento em que o inchaço (edema) no joelho já passou e a fase de dor mais intensa também.
Neste momento, é importante que o paciente seja capaz de caminhar com razoável conforto, pois a recuperação e o retorno esportivo tendem a ser mais bem-sucedidos.
Como é feita a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior?
A técnica cirúrgica nesses casos consiste na substituição do ligamento rompido por um enxerto biológico. O procedimento completo, exceto a retirada do enxerto, é realizado por vídeo (artroscopia).
Para isso, o paciente é anestesiado por raquianestesia (parcial) e sedação, ajudando-o a dormir durante a operação.
Durante a cirurgia, o médico retira o enxerto do corpo do paciente, ou pega o enxerto do doador falecido, e o prepara no formato correto do ligamento cruzado anterior.
Depois, inicia-se a artroscopia, um procedimento minimamente invasivo em que é introduzida uma câmera de 4 a 6 mm no joelho.
Assim, é possível visualizar se há lesões em outros locais, como meniscos e cartilagem, e preparar a área para a reconstrução do ligamento.
Nesta etapa, é feita uma perfuração no fêmur e na tíbia e o enxerto é passado por dentro dos túneis construídos e fixado com um implante, que pode ser um parafuso de metal, botão suspensório, parafuso biodegradável ou outra opção escolhida pelo cirurgião junto ao paciente.
Os túneis são como furos realizados nos ossos onde fica o LCA e seu posicionamento correto é fundamental para o sucesso da operação.
Após a inserção e fixação do enxerto, o médico testa a articulação do joelho e analisa se os movimentos de flexão e extensão estão sendo realizados da maneira correta, bem como se o joelho tem a estabilidade adequada.
Depois, as incisões são suturadas (fechadas) com fios de nylon e o local recebe curativos que deverão ser cuidados pelo paciente no pós-operatório.
Em geral, o paciente costuma ficar internado por uma noite, recebendo medicamentos analgésicos e antibióticos profiláticos.
No dia seguinte, os curativos são trocados, o paciente recebe as orientações necessárias e pode ir para casa, onde precisa usar muletas por algumas semanas para poupar o joelho operado.
Como é a recuperação da reconstrução do LCA?
Após a operação e a fixação do enxerto de maneira estável, ele irá cicatrizar dentro dos túneis ósseos criados pelo cirurgião.
Inicialmente, a área passa por um período de revascularização e repopulação celular, a chamada “ligamentização”.
Neste período, o paciente estará em processo de reabilitação, buscando ganhar massa muscular e um arco de movimento semelhante aos níveis de antes da lesão.
Com o tempo, o objetivo é que o paciente ganhe equilíbrio e explosão muscular, mas no período de cicatrização do enxerto é fundamental proteger a articulação, evitando esforços repetitivos e torques rotacionais, sob supervisão de um fisioterapeuta especializado.
Os cuidados pós-operatórios são fundamentais para a recuperação do paciente após a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior.
É importante ressaltar que a presença de outras lesões na área é muito comum e pode afetar a reabilitação após a operação.
Por isso, o paciente deve ter o acompanhamento de um médico ortopedista e de uma equipe multidisciplinar que irá dar as orientações mais adequadas de acordo com cada caso.
Em geral, a recuperação do LCA acontece de quatro a seis meses após a cirurgia, podendo levar até um ano.
Neste período, alguns aspectos trabalhados são a mobilidade, a recuperação do quadríceps, a propriocepção e o equilíbrio do paciente.
Aos poucos, é possível retomar as atividades diárias e a prática regular de exercícios físicos, que também ajudam a prevenir lesões futuras.
Nas primeiras semanas, por exemplo, são realizados exercícios de flexão do joelho e massagens drenantes para diminuir a inflamação.
O paciente deve continuar usando muletas durante o período indicado pelo médico, o que ajuda a reduzir o peso sobre a perna operada e permite a circulação ativa na área.
Assim, após alguns meses, inicia-se o fortalecimento muscular na fisioterapia e o paciente pode começar a se preparar para ir a uma academia de ginástica e retornar ao esporte.
Os movimentos devem ser treinados aos poucos, seguindo as recomendações da equipe de médicos e fisioterapeutas.
Em geral, a maioria dos pacientes atleticamente ativos antes da lesão retornam ao esporte até um ano após a cirurgia, muitos no mesmo nível de antes da lesão.
Para isso, é importante contar com um cirurgião experiente que irá realizar a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) e orientar o paciente no pós-operatório durante sua recuperação